Donald Trump retornou, nesta terça-feira (23), ao tribunal de Nova York, onde enfrenta uma possível sanção por desacato devido aos seus ataques a testemunhas e jurados, no histórico julgamento criminal por supostos pagamentos secretos para comprar o silêncio de uma ex-atriz pornô.
“Fora destas portas, em um curral montado onde dá conferências de imprensa diárias (…) o acusado mais uma vez violou a ordem diante das câmaras”, disse o advogado da Promotoria, Chris Conroy.
O magnata é acusado de violar as ordens do juiz de instrução Juan Merchan que o proíbe de falar sobre testemunhas e membros do júri.
Trump está sendo julgado por falsificar 34 documentos contábeis da empresa familiar, a Trump Organization, para ocultar o pagamento de 130 mil dólares à ex-atriz pornô Stormy Daniels na reta final da campanha presidencial de 2016.
“O acusado não cumpre, consciente e intencionalmente, as linhas cristalinas” estabelecidas na ordem de 1º de abril “para proteger a integridade deste processo”, disse o advogado, que denunciou 12 publicações, 10 na sua plataforma Truth Social e duas no site de campanha.
Embora a lei preveja pena de até 30 dias de prisão por desacato, o advogado pediu ao tribunal “uma multa de até mil dólares por cada publicação” na sua plataforma Truth Social ou no seu site de campanha que contrarie a ordem judicial.
“Não há dúvida de que o presidente Trump enfrenta uma enxurrada de ataques políticos de todos os lados, incluindo das duas testemunhas”, justificou o seu advogado Todd Blanche, que disse não acreditar que “publicar um artigo” de qualquer meio seja “uma violação da ordem de silêncio”.
Mas o juiz reclamou que a defesa não apresentou nenhuma prova e disparou: “você está perdendo toda a sua credibilidade junto a este tribunal”.
O juiz ainda não anunciou sua decisão.
“Esquema criminoso”
A Promotoria de Manhattan acusa o empresário republicano de ter “orquestrado um esquema criminoso para influenciar a eleição presidencial de 2016”, na qual Trump derrotou a democrata Hillary Clinton, e de ter “mentido em documentos contábeis para ocultar” o plano.
O dinheiro foi usado para comprar o silêncio de Daniels, que afirma ter mantido uma relação sexual com o bilionário em 2006, quando este já era casado com Melania Trump, o que o republicano nega.
Se for considerado culpado, o candidato presidencial republicano às eleições de novembro e o primeiro ex-presidente a sentar-se no banco dos réus da Justiça criminal enfrentará uma pena de prisão de quatro anos ou uma multa.
No primeiro dia do julgamento, 15 de abril, a Promotoria pediu ao juiz que punisse o republicano com uma multa de 3.000 dólares pelas palavras virulentas utilizadas contra Stormy Daniels e contra o seu ex-advogado Michael Cohen, que virou seu pior inimigo e será uma testemunha chave da acusação.
O candidato republicano chamou Cohen de “mentiroso em série”. Ele também endossou as declarações de Jesse Watters, apresentador do canal de televisão conservador Fox News, que alegou, sem provas, que estavam selecionando “ativistas progressistas infiltrados que mentem ao juiz” para o júri que definirá a sentença.
No dia seguinte a esta publicação, uma candidata ao júri desistiu por medo de ser reconhecida.
Para evitar intimidações e assédio, o juiz decretou o anonimato dos 12 integrantes do júri e dos seis suplentes, que respondem apenas por um número.
O juiz proibiu Trump de atacar jurados, testemunhas, funcionários do tribunal e promotores, com exceção do próprio magistrado e do procurador de Manhattan, Alvin Bragg.
Trump considera que as proibições são um ataque contra sua liberdade de campanha e as considera injustas porque Cohen não tem limites para criticá-lo.
“Se este lacaio partidário quiser me prender por dizer a VERDADE aberta e óbvia, terei prazer em me tornar um Nelson Mandela dos dias modernos. Será uma GRANDE HONRA”, desafiou Trump.
O julgamento oral prossegue nesta terça-feira com o interrogatório da primeira testemunha da acusação, David Pecker, ex-presidente da editora do tabloide National Enquirer, velho amigo de Trump e agora inimigo, que comprou e enterrou histórias que poderiam afetar o empresário durante a campanha eleitoral de 2016.