A organização da 1ª Bienal do Livro e Cultural de Aracaju (SE) recuou da ideia de ter o ex-policial rodoviário federal Paulo Rodolpho Lima Nascimento, preso há mais de um ano por envolvimento no caso Genivaldo Jesus, como um dos palestrantes do evento.
A participação do PRF na feira literária, prevista para acontecer entre 17 e 18 de maio, foi divulgada no início de abril. Dias depois, contudo, o post foi removido das redes sociais. Procurada por CartaCapital, a organização da Bienal confirmou que o ex-policial não participará do evento, mas não revelou os motivos que levaram à decisão.
Paulo Rodolpho é o autor do livro A sabedoria da espera: reflexões de um pré-condenado, lançado em outubro passado. A obra mistura relatos sobre a rotina no cárcere, reflexões sobre o que ele considera “amargor do silenciamento” e cartas trocadas com familiares desde a prisão.
A postagem feita na página oficial da 1ª Bienal do Livro e Cultural de Aracaju em 10 de abril indicava a participação do ex-PRF Paulo Rodolpho Nascimento, preso por participação no caso Genivaldo. O post foi apagado após repercussão negativa – Reprodução/redes sociais
O ex-policial foi detido em outubro de 2022, cerca de seis meses após a abordagem que resultou na morte de Genivaldo Jesus Santos. O caso aconteceu em Umbaúba, cidade sergipana distante pouco mais de 100 quilômetros de Aracaju.
Responsável pela defesa do ex-PRF, o advogado Rawlinson Ferraz disse à reportagem que a presença dele no evento não chegou a ser cogitada, uma vez que ele não pode deixar o presídio. Quem falaria sobre o livro, prosseguiu, seria Elizabete Sant’Anna, esposa de Paulo e pré-candidata a vereadora pelo PL.
Questionada, a organização da Bienal não respondeu se a obra será exposta na feira literária. O espaço permanece à disposição.
Genivaldo morreu em decorrência de asfixia e insuficiência respiratória após ser trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e submetido a gás lacrimogêneo.
A vítima foi abordada pelos policiais quando pilotava a motocicleta da irmã sem capacete. Levado ao chão, Genivaldo teve as mãos algemadas e os pés amarrados com fitas. Também foi alvo de uma rasteira e de chutes, em meio a xingamentos.
Já no interior do veículo, o homem foi obrigado a inalar gás lacrimogêneo. Nas gravações da cena, é possível ver fumaça escapando da viatura enquanto ele tentava deixar o compartimento.
Além de Paulo Rodolpho, os ex-policiais William de Barros Noia e Kleber Nascimento Freitas são réus por tortura-castigo e homicídio triplamente qualificado. As penas, somadas, podem chegar a 40 anos de prisão.
Os três foram demitidos da PRF em agosto passado e permanecem presos, à espera do júri popular.