Israel e o movimento islamista palestino Hamas manifestaram, neste domingo (5), as suas profundas divergências sobre os termos para chegar a uma trégua na Faixa de Gaza, o que põe em risco as negociações com mediação internacional no Cairo.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que aceitar as “exigências” do Hamas para acabar com a guerra em Gaza seria “uma derrota terrível para o Estado de Israel” e equivaleria à “capitulação”.
Ele também anunciou o fechamento em Israel da Al Jazeera, rede de notícias do Catar, um dos países mediadores do conflito, e a apreensão de seus equipamentos. A decisão foi considerada “criminosa” pela rede de notícias.
Em resposta, o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Netanyahu de “sabotar os esforços dos mediadores” para obter uma trégua no território palestino após quase sete meses de conflito.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, após a incursão de comandos islamistas que mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel, segundo um relatório da AFP baseado em dados israelenses.
As autoridades israelenses estimam que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos em novembro, 129 pessoas permaneceram cativas em Gaza e 35 morreram.
A ofensiva lançada por Israel em resposta ao ataque deixou até agora 34.683 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde.
A diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Cindy McCain, alertou que uma “verdadeira fome” atinge o norte do enclave palestino e se desloca para o sul.
“Derrota terrível”
A última proposta de trégua que os mediadores internacionais – Catar, Egito, Estados Unidos – apresentaram ao Hamas no final de abril prevê uma interrupção dos combates durante 40 dias e uma troca de reféns israelenses detidos em Gaza desde 7 de outubro em troca de palestinos presos em Israel.
Poucas horas antes da retomada do segundo dia de negociações, neste domingo na capital egípcia, um líder do Hamas afirmou que o movimento islamista não aceitará “em nenhuma circunstância” um acordo que não inclua explicitamente o fim da guerra.
“Nossas informações confirmam que (Benjamin) Netanyahu está pessoalmente impedindo um acordo devido a cálculos pessoais”, disse o líder à AFP sob condição de anonimato.
Anteriormente, ele havia indicado que as negociações não permitiam “nenhuma evolução” neste momento.
“Quando Israel mostra a sua boa vontade, o Hamas persiste nas suas posições extremas, entre as quais se destaca a sua exigência de retirada das nossas forças da Faixa de Gaza, o fim da guerra e a preservação do Hamas. Israel não pode aceitar isso”, declarou Netanyahu em uma reunião de gabinete.
“Israel não aceitará as exigências do Hamas, que significam capitulação, e continuará lutando até que todos os seus objetivos sejam alcançados”, insistiu.
O Fórum de Famílias de Reféns apelou a Netanyahu para “ignorar a pressão política” e aceitar um acordo que permitiria a libertação dos reféns. “Senhor Netanyahu, a história não o perdoará se você perder esta oportunidade”, disseram eles em um comunicado.
Israel, que não está presente nas negociações do Cairo, só enviará uma delegação se houver progresso no “marco” da troca de reféns, declarou um representante israelense em Jerusalém.
O chefe da CIA, William Burns, está na capital egípcia, segundo a imprensa americana.
Fechamento da passagem fronteiriça
Israel, que assim como os Estados Unidos e a União Europeia, classifica o Hamas como organização terrorista, opõe-se ao cessar-fogo definitivo e insiste em lançar uma ofensiva terrestre contra Rafah, por considerá-la o último reduto dos comandos islamistas.
Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, opõem-se a uma invasão dessa cidade palestina no extremo sul da Faixa de Gaza, onde 1,2 milhão de pessoas estão aglomeradas, a maioria delas deslocadas pela guerra.
“Os danos que causaria iriam além do aceitável”, alertou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Uma operação terrestre em Rafah também comprometeria a ajuda humanitária que entra na Faixa, principalmente através desta cidade na fronteira com o Egito, e que já é insuficiente para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
O Exército israelense anunciou neste domingo o fechamento da passagem Kerem Shalom que dá acesso à Faixa de Gaza – e por onde entra a ajuda humanitária – após um ataque com foguetes.
Na frente norte de Israel, na fronteira com o Líbano, o movimento xiita pró-iraniano Hezbollah anunciou ter disparado “dezenas de foguetes” contra o território israelense após a morte, segundo a agência oficial libanesa, de “quatro membros civis da mesma família em um ataque israelense” no sul do Líbano.