Eu Sou o Samba, Mas Pode me Chamar de Zé Ketti, de Luiz Guimarães de Castro, entremeia a história de José Flores de Jesus (1021-1999), o Zé Ketti, com performances musicais de sua inesquecível obra.
O documentário é bem roteirizado e as declarações do sambista, extraídas de gravações históricas, são bem significativas.
O filme estreou na 16ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, que acontece em São Paulo, e pode ser visto gratuitamente na plataforma de streaming Itaú Cultural Play até o fim da mostra, em 23 de junho.
O longa ainda apresenta depoimentos de familiares e gente do samba, além de relatar passagens da vida do sambista no Rio de Janeiro e o seu envolvimento com o cinema e o teatro. O longa-metragem destaca com ênfase sua relação com a crítica social.
Zé Ketti é autor de sambas memoráveis, como Acender as Velas, Diz que Fui por Aí (com Hortêncio Rocha), Leviana, Mascarada (com Elton Medeiros), Nega Dina e Máscara Negra (com Hildebrando Pereira Matos), marcha-rancho símbolo do carnaval.
O filme apresenta essas e outras canções do artista, com interpretações de Paula Santoro, Ilessi, Mariana Baltar e Fernando Procópio – este, pertencente a uma das dinastias do samba carioca e responsável ao longo do filme por fazer ligações de Zé Ketti com outros participantes.
A música Opinião (“Podem me prender / Podem me bater / Podem até deixar-me sem comer / Que eu não mudo de opinião”) ganhou o público e virou uma antológica peça de teatro, símbolo da resistência ao golpe de 1964. Zé Ketti foi ator nesse projeto, função que já exercia desde o filme Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos.
Ele havia sido chamado pelo cineasta para musicar o filme, e o samba A Voz do Morro (“Eu sou o samba/ A voz do morro, sou eu mesmo, sim, senhor”), recém-composto, entrou como tema principal.
O sambista conta essas e mais algumas histórias, em meio a performances com suas músicas e depoimentos, como o de Zé Renato, que em 1996 lançou um álbum sensacional com a obra de Zé Ketti chamado Natural do Rio de Janeiro.
Zé Ketti é um grande personagem da música brasileira e possui uma obra muito peculiar, que o levou a se aproximar do mundo artístico da zona sul do Rio no início de carreira, indo além das rodas de samba e das quadras das escolas. Suas músicas em tom de crônicas político-sociais chamaram a atenção da intelectualidade.
Eu Sou o Samba, Mas Pode me Chamar de Zé Ketti é um documentário importante para manter o artista vivo na memória.