“Estou aqui pela vontade de Deus Todo-Poderoso, pela vontade do nosso povo”, garante Maduro, que se prepara para iniciar um terceiro mandato consecutivo. O Parlamento, onde o governo tem maioria absoluta, após o boicote pela oposição das eleições legislativas de 2020, convidou Maduro para comparecer ao meio-dia de sexta-feira (no horário local, 13 horas em Brasília) para a cerimônia de posse diante dos deputados.
Mas a oposição, que reivindica vitória nas eleições de 28 de julho, convocou protestos em todo o país na quinta-feira em apoio ao “presidente eleito” Edmundo Gonzalez Urrutia, numa tentativa de inviabilizar o processo de tomada de posse.
O governo respondeu a este apelo convocando seus apoiadores para uma contramanifestação.
O presidente Maduro também ativou um plano nacional com a polícia militar e um destacamento massivo de forças de segurança já está nas ruas da capital Caracas. Exército, polícia, milícias, agentes dos serviços de inteligência, os chamados “coletivos” paramilitares circulam pela cidade, alguns encapuzados, e a televisão pública transmite regularmente imagens da polícia.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, prometeu firmeza. “Fascistas! Terroristas! Se ousarem, vão se arrepender pelo resto da vida porque defenderemos o Palácio, mas depois partiremos para o contra-ataque”, ameaçou.
Opositor busca apoio
Gonzalez Urrutia, que foi eleito segundo a oposição, está em um giro internacional para angariar apoio. Ele visitou Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se reuniu com o presidente Joe Biden, representantes do Congresso e membros da equipe do presidente eleito Donald Trump.
Mas a possibilidade de a promessa do opositor, de prestar juramento como presidente da Venezuela, se concretizar no dia 10 de janeiro em Caracas é pouco provável. O governo de Maduro oferece um prêmio de de US$ 100 mil para quem o entregar.
Cartaz oferecendo recompensa por informações que levem à prisão do opositor venezuelano Gonzalez Urrutia. Foto: Pedro Mattey/AFP
Maduro foi proclamado vencedor das eleições de julho com 52% dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que, no entanto, não tornou públicas as atas das mesas de voto, afirmando ter sido vítima de um hacker. A alegação é considerada pouco provável por muitos observadores internacionais.
A oposição, que alega fraude, publicou as atas fornecidas pelos seus escrutinadores e assegura que Gonzalez Urrutia obteve mais de 67% dos votos.
Ameaças de prisão assustam
A repressão às manifestações pós-eleitorais deixou 28 mortos, 200 feridos e resultou na detenção de 2.400 pessoas acusadas de terrorismo (cerca de 1.500 estão em liberdade condicional). Três pessoas morreram sob custódia.
Neste contexto, muitos observadores questionam se a oposição é capaz de mobilizar seus apoiadores na quinta-feira e “vencer o medo”, nas palavras da sua líder, Maria Corina Machado.
Ela vive na clandestinidade há cinco meses, mas prometeu sair para não “perder este dia histórico”, afirmando que acredita que “os dias” de Maduro e da “tirania” estão “contados”.
Como em diversas ocasiões nas últimas semanas, Gonzalez Urrutia, 75 anos, fez um apelo em vão ao Exército, que apoia o poder, para se unir a ele. O alto comando se recusou, qualificando o pedido de “palhaçada”.
Depois de Washington, Gonzalez Urrutia se aproxima de seu país com paradas planejadas no Panamá na quarta-feira e na República Dominicana na quinta-feira.
Ele considerou voar para Caracas com um grupo de ex-presidentes que o apoiam na tentativa de tomar o poder. “Este avião, a tripulação e os passageiros devem ser tratados como uma força estrangeira que tenta uma invasão”, alertou o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodriguez.
Pouco depois, Gonzalez Urrutia denunciou o sequestro de seu genro em Caracas por “homens encapuzados”.
“Meu genro Rafael Tudares foi sequestrado (…) homens encapuzados e vestidos de preto o colocaram em uma van dourada (…) e o levaram embora”, escreveu Urrutia na terça-feira no X.
O governo não se manifestou sobre o caso. A oposição utiliza regularmente a palavra “sequestro” para detenções arbitrárias.
Outra personalidade da oposição, o ex-candidato à presidência em julho, Enrique Marquez, foi preso nesta quarta-feira de acordo com informações de sua coalizão, a Frente Democrática Popular. O Ministério Público não confirmou a prisão.
Marquez foi responsável por iniciar diversos processos judiciais pedindo a anulação da reeleição de Maduro.