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    O discurso verde escorre pelo ralo – Daniel Camargos – CartaCapital

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    A exploração de petróleo na Foz do Amazonas se transformou em um teste de coerência para o governo Lula. O presidente quer projetar o Brasil como referência global na transição energética e, ao mesmo tempo, empurra a Petrobras para perfurar poços no litoral amazônico.

    Enquanto o Planalto insiste que o país liderará a agenda climática mundial, tendo como palco a COP30 — a conferência do clima da ONU, que será realizada em Belém (PA) em novembro —, o governo discute sua adesão à Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a Opep, grupo que reúne as nações cuja economia depende da exploração de combustíveis fósseis.

    A contradição ficou ainda mais evidente nas últimas semanas. Em entrevista a uma rádio do Amapá, Lula declarou: “É isso que queremos [pesquisar se há petróleo]. Se depois vamos explorar, é outra discussão. O que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo”.

    O comentário respondia aos questionamentos sobre os impactos da extração de petróleo na Foz do Amazonas, um dos ecossistemas mais sensíveis do planeta. Parte do governo e a Petrobras argumentam que a perfuração ajudaria a compensar a queda na produção do pré-sal e garantiria a segurança energética do país.

    A declaração de Lula repercutiu mal entre ambientalistas e, sobretudo, dentro do Ibama, responsável por conceder a licença para exploração da área. O órgão toma decisões embasadas em estudos técnicos, que apontam um cenário preocupante. A região tem correntes marítimas três vezes mais fortes do que as do Sudeste, o que tornaria qualquer vazamento impossível de conter.

    Em 2011, uma sonda da própria Petrobras foi arrastada, resultando em um vazamento. Em 2016, pesquisadores descobriram um sistema de recifes amazônicos, e muitas espécies da região sequer foram catalogadas. Para o governo, no entanto, essas preocupações fazem parte do “lenga-lenga” que atrapalha o desenvolvimento.

    “O Ibama não está contra o governo. O Ibama está contra a irresponsabilidade, e isso incomoda”, escreveu no site O Eco, o analista do órgão e diretor da Ascema, entidade que representa os servidores ambientais, Wallace Lopes.

    Lopes alerta que a pressão política sobre o Ibama compromete decisões técnicas e acusa o governo de tentar desqualificar um trabalho baseado em evidências científicas. A Ascema divulgou uma nota reforçando que nenhum servidor deve se submeter a interferências políticas que busquem favorecer a liberação da licença.

    Enquanto encoraja a exploração de petróleo na Amazônia, o governo Lula está prestes a bater o martelo sobre a entrada do Brasil na Opep, o cartel global dos maiores exportadores de petróleo.

    Criada na década de 1960, a Opep tem como objetivo controlar a produção e os preços do petróleo, garantindo o lucro de seus membros. Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos e Venezuela fazem parte do grupo, que há anos resiste à pressão internacional para reduzir a exploração de combustíveis fósseis. O Brasil nunca fez parte da organização, mas o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), defende a adesão.

    A proposta, no entanto, bate de frente com a retórica ambiental do governo. Como o Brasil pode sediar a COP30 e, ao mesmo tempo, se juntar ao grupo que mais se beneficia da queima de combustíveis fósseis?

    O Itamaraty já manifestou preocupação com a contradição e tenta adiar a adesão do Brasil à Opep para 2026, temendo que a decisão manche a credibilidade do país na conferência. A estratégia, pelo visto, é varrer a sujeira do petróleo para debaixo do tapete e escondê-la dos 60 mil visitantes esperados na COP 30.

    “O debate sobre o uso ou não de combustível fóssil não é de um país isolado, mas algo que está colocado em contexto global para todos os países. Isso foi estabelecido na COP 28: fazer a transição para o fim do uso de combustível fóssil. O presidente Lula foi fundamental para aquela formulação. Se ele não tivesse dito em seu discurso que o mundo precisa sair da dependência do uso de combustível fóssil, possivelmente aquela formulação pudesse ter sido bloqueada nas negociações”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em entrevista recente à Agência Pública.

    O embate dentro do governo não é novidade para Marina. No passado, a ex-senadora rompeu com o PT e deixou o Ministério do Meio Ambiente justamente por se opor à agenda desenvolvimentista do governo Lula, que atropelava análises ambientais para liberar grandes empreendimentos.

    O caso mais emblemático foi a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu. O projeto foi viabilizado e resultou em um impacto ambiental e social devastador: 55 mil pessoas foram expulsas de suas casas, comunidades indígenas foram afetadas e 130 quilômetros da Volta Grande do rio Xingu secaram.

    Hoje, Belo Monte se tornou o exemplo do que acontece quando a promessa de desenvolvimento fala mais alto do que as evidências. Muitas famílias ribeirinhas que perderam suas casas ainda não foram reassentadas, e Altamira, o epicentro da obra, segue afundada na violência.

    Marina já foi vítima do pragmatismo político do PT quando enfrentou ataques da campanha de Dilma Rousseff, em 2014, por defender um modelo de crescimento diferente do que foi adotado pelo partido. Agora, ela é testemunha da insistência do governo petista na exploração de petróleo em uma das áreas mais sensíveis do planeta.

    O governo Lula precisa decidir: quer ser um líder climático ou mais um membro da Opep.

    Informações são do site Carta Capital, Clique aqui

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