O presidente Lula (PT) se reunirá em 17 de abril com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, em Bogotá, com a participação do chanceler Mauro Vieira. Oficialmente, um dos principais itens na pauta é a discussão de temas relacionados à Amazônia, mas o delicado cenário político na América Latina não ficará de fora.
Pela primeira vez, Lula tem a oportunidade de dialogar com um presidente colombiano de esquerda – Petro, afinal, é o único representante deste campo a ascender à chefia do Executivo em seu país. Um vizinho, porém, se tornou pauta das vigorosas reações diplomáticas de Brasil e Colômbia nas últimas semanas: o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela.
Ao chegar ao poder, Petro buscou reativar as relações diplomáticas com Caracas. Nisto, teve sucesso. A busca por se tornar mediador da crise política no país vizinho, contudo, não prosperou. A relação já estava esfriando desde o ano passado, e atingiu seu ponto mais crítico há poucos meses, depois que a principal líder da oposição ao governo Maduro não conseguiu registrar sua candidata favorita para as eleições presidenciais de julho.
O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia expressou “preocupação com os recentes acontecimentos ocorridos durante a inscrição de algumas candidaturas”, o que “poderia afetar a confiança de alguns setores da comunidade internacional”. Na mesma linha, o Itamaraty disse acompanhar o pleito com “preocupação” e, posteriormente, Lula afirmou que barrar a inscrição de uma opositora era “grave”. A Venezuela, por sua vez, dobrou a aposta e reagiu em termos severos.
Ao conturbado cenário eleitoral acrescenta-se o fato de que Maduro promulgou na semana passada a chamada Lei Orgânica para a Defesa da Guiana Essequiba, um território rico em petróleo administrado pela Guiana e reivindicado pela Venezuela.
Outro episódio a lançar lenha na fogueira latino-americana nos últimos dias foi a invasão sem precedentes da polícia do Equador à embaixada do México em Quito. Após romper relações, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, antecipou uma denúncia na Corte Internacional de Justiça, a ser apresentada nesta terça.
Na noite da última sexta-feira 5, forças de segurança equatorianas entraram na representação diplomática do México em Quito para capturar o ex-vice-presidente Jorge Glas, que estava refugiado no local desde dezembro. Brasil e Colômbia mais uma vez se alinharam no repúdio à ação, considerada uma flagrante violação do direito internacional.
As consequências do episódio no Equador também devem fazer parte da conversa entre Lula e Petro.
Mais um tema caro aos dois presidentes é a preservação da Amazônia. No ano passado, eles já haviam se reunido em Letícia, na Amazônia colombiana, para tratar do assunto. “A luta para proteger a Floresta Amazônica é e continuará a ser uma prioridade para a Colômbia e o Brasil”, disse recentemente o embaixador da Colômbia no Brasil, Guillermo Rivera.
Há, no entanto, algumas divergências na relação entre Petro e Lula em termos de visão sobre a transição verde. Em agosto de 2023, por exemplo, o colombiano defendeu energicamente o fim da exploração de petróleo na Amazônia, durante uma reunião com Lula e outros líderes da região em Belém (PA). Ele classificou essa exploração como “sem sentido” e um “contrassenso” e cobrou decisões.
“É muito difícil, principalmente para nós, latino-americanos, que vivemos do gás, do petróleo, do carvão, perguntar como seria esse debate, porque o planeta precisa parar de usar essas fontes”, declarou, na ocasião.
Lula, por outro lado, segue em uma polêmica envolvendo a possibilidade de a Petrobras explorar petróleo na região da Foz do Amazonas. A empresa estima que a área pode render 14 bilhões de barris. O Ibama rejeitou o primeiro pedido de licença, mas a estatal apresentou uma nova solicitação, ainda sob análise.
Em setembro passado, durante uma viagem a Nova Délhi, na Índia, Lula se opôs a uma proibição de pesquisas na região, que vai do litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte. “Se encontrar a riqueza que se pressupõe que exista lá, aí é uma decisão de Estado se você vai explorar ou não. Mas, veja, é uma exploração a 575 quilômetros à margem do [Rio] Amazonas. Não é uma coisa que está vizinha do Amazonas.”
“Não foi pesquisado ainda. É impossível saber antes de pesquisar. Você pode pesquisar, descobrir que tem muita coisa, aí vai se discutir como fazer a exploração daquilo.”
O item mais ameno na pauta de Lula na Colômbia é a participação do Brasil como país convidado e homenageado na Feira Internacional do Livro, em Corferias, de 17 de abril a 2 de maio. Sob o mote “Ler a Natureza”, o pavilhão dedicado ao País promete oferecer uma programação sobre literatura, cultura e natureza.