Um tribunal peruano sentenciou nesta quinta-feira (11), a 28 anos e três meses de prisão, os cinco assassinos de quatro líderes indígenas Asháninkas, defensores dos recursos naturais em uma região da Amazônia na fronteira entre o Peru e o Brasil, um crime cometido em 2014.
“Foram condenados a 28 anos e três meses de prisão efetiva como coautores de homicídio qualificado”, disse a juíza Karina Bedoya, do Juizado Penal Colegiado de Ucayali, na cidade de Pucallpa (nordeste), detalhando que a sentença entrará em vigor a partir do momento em que os condenados forem detidos.
Edwin Chota, Jorge Ríos, Leoncio Quintisima e Francisco Pinedo foram assassinados em 1º de setembro de 2014 na frente de membros de sua comunidade nativa Alto Tamaya-Saweto. Eles eram ameaçados por defenderem seu território e denunciarem o desmatamento, atividade que afeta o ecossistema e a biodiversidade da região, e deixaram 17 órfãos.
Os condenados são os irmãos Josimar e Segundo Atachi, José Carlos Estrada, Hugo Soria e Eurico Mapes. O Ministério Público havia pedido 35 anos de prisão.
A decisão do caso que ficou popularmente conhecido como Saweto foi bem recebida pelos familiares e indígenas Asháninkas presentes na audiência, que portavam seus arcos e flechas.
“Estou feliz com a sentença. É uma conquista de 10 anos”, disse à AFP Lita Rojas, viúva de Leoncio Quintisima.
Entre os presentes na audiência estava o ministro da Justiça do Peru, Eduardo Arana, e representantes diplomáticos de Alemanha, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e Nações Unidas.
O julgamento começou em novembro de 2023 e se tratava de um segundo processo para os acusados, que foram condenados em primeira instância a 28 anos, em fevereiro de 2023.
Contudo, um tribunal de apelações anulou essa decisão e ordenou a realização de outro julgamento, alegando “irregularidades” com um depoimento, segundo o advogado dos familiares das vítimas, Yusen Caraza.
Além das condenações, a juíza Bedoya determinou que cada família das vítimas deverá receber uma indenização de 50 mil sóis (pouco mais de 68 mil reais).
O crime gerou uma onda de críticas contra as autoridades peruanas pela pouca atenção dada aos apelos à defesa das florestas e à proteção das lideranças indígenas por conta das ameaças das máfias de madeireiros.
Edwin Chota era uma figura pública que havia se tornado referência para grupos ambientais e meios de comunicação internacionais por sua defesa da floresta amazônica.
Segundo a ONG Global Witness, desde 2012, foram assassinados no Peru pelo menos 54 defensores da terra e do meio ambiente, dos quais mais da metade pertencia a etnias indígenas.