O Irã interceptou, neste sábado (13), um navio vinculado a Israel, que alertou que a República Islâmica “sofrerá as consequências” de uma escalada em uma região desestabilizada por mais de seis meses de guerra entre Israel e o Hamas em Gaza.
As forças marítimas da Guarda Revolucionária, o Exército ideológico do Irã, interceptaram um navio cargueiro operado por uma empresa “pertencente ao capitalista sionista Eyal Ofer” no Golfo, informou a agência oficial iraniana Irna.
Vários comandos abordaram o navio ‘MSC Aries’ a partir de um helicóptero quando este estava “perto do Estreito de Ormuz”, acrescentou.
Havia 25 tripulantes a bordo, segundo o armador suíço-italiano MSC disse à Irna.
Israel alertou que o Irã, seu arqui-inimigo, “sofrerá as consequências” de qualquer escalada. “Estamos prontos para reagir”, disse o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari.
A interceptação do navio ocorre em um contexto de tensões crescentes no Oriente Médio, tendo como pano de fundo a guerra entre Israel e o movimento palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, desencadeada por uma incursão sangrenta de comandos islamistas no sul de Israel em 7 de outubro.
As tensões aumentaram ainda mais com o bombardeio do consulado iraniano em Damasco, em 1º de abril. Teerã, que perdeu dois dos seus generais no ataque, culpou Israel e avisou que não ficaria impune.
Temendo uma escalada, o Ministério da Defesa dos Estados Unidos, aliado de Israel, informou na sexta-feira o envio de “recursos adicionais” à região “para reforçar os esforços de dissuasão e aumentar a proteção das forças americanas”.
Os receios de uma regionalização do conflito surgem enquanto Catar, Egito e Estados Unidos, mediadores de uma trégua em Gaza, aguardam uma resposta à sua mais recente proposta de cessar-fogo.
– “Pânico total” –
França, Alemanha e Estados Unidos recomendaram aos seus cidadãos que se abstivessem de viajar para o Irã e várias companhias aéreas suspenderam os seus voos para o país.
Teerã não indicou se a apreensão do navio já é uma resposta ao ataque mortal ao seu consulado em Damasco.
“Há uma semana que os sionistas estão em estado de pânico total e em alerta”, disse neste sábado Yahya Rahim Safavi, conselheiro do líder supremo do Irã, citado pela agência Isna.
“Eles pararam o ataque militar a Rafah”, no sul de Gaza, e “como não sabem o que o Irã quer fazer, eles e os seus aliados estão aterrorizados”, acrescentou.
A incursão islamista de 7 de outubro no sul de Israel deixou 1.170 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
O movimento islamista também fez 250 reféns, dos quais 129 permanecem em Gaza, incluindo 34 que se acredita terem morrido, segundo as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma ofensiva implacável que já deixou 33.686 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007.
O Exército israelense anunciou neste sábado que continuará as suas operações no centro de Gaza, após a retirada das suas tropas de Khan Yunis, no sul deste território em ruínas.
Um vídeo da AFP mostra o que resta de uma mesquita em Deir al Balah. O Exército “exigiu evacuar toda a área” antes de destruí-la “em questão de minutos”, disse Abdullah Baraka, uma testemunha.
O conflito, além do número significativo de vítimas, deixou a maioria dos quase 2,5 milhões de habitantes de Gaza à beira da fome, segundo a ONU. O cerco israelense impede a entrada da ajuda humanitária de que o pequeno território necessita.
– Adolescente israelense “assassinado” na Cisjordânia –
A guerra também é sentida do outro lado da fronteira. Sirenes aéreas soaram na cidade israelense de Sderot na sexta-feira e o Exército interceptou foguetes lançados de Gaza.
Mais ao norte, no sul do Líbano, o Exército israelense disse neste sábado que bombardeou “um grande complexo militar” do movimento Hezbollah, aliado do Hamas, apoiado pelo Irã, um dia depois de o movimento xiita ter disparado “dezenas de foguetes contra posições israelenses”.
Além do Líbano, existem outros grupos apoiados pelo Irã na região, inclusive no Iêmen e na Síria.
O conflito também alimentou a violência na Cisjordânia ocupada, onde foi encontrado o corpo de um adolescente israelense desaparecido no dia anterior.
Benjamin Achimeir, de 14 anos, foi “assassinado” em um “ataque terrorista”, disse o Exército.
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, instou os colonos israelenses na Cisjordânia a pôr fim aos “atos de vingança” que foram desencadeados contra os palestinos por causa deste drama.