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    DR com Demori: ator Caio Blat reflete o papel da arte na sociedade

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    O programa DR com Demori, da TV Brasil, recebe esta semana o ator e diretor de cinema, TV e teatro Caio Blat. O artista está em cartaz com espetáculo que faz adaptação de Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoievski, e conversa com Leandro Demori sobre as mudanças da sociedade contemporânea e a influência da arte na formação cidadã. 

    Caio Blat defende a cultura como protagonista entre os temas urgentes da atualidade para construção da identidade e formação de pensamento crítico; lembrando a importância econômica do trabalho artístico e de leis de fomento.

    “As pessoas falam tanta besteira da Lei Rouanet. Primeiro é um instrumento neoliberal, são empresas que escolhem quem vão patrocinar. Em segundo lugar, o cachê que vai para a montagem de uma peça é diluído, capilarizado, são centenas de pessoas que trabalham em uma produção, que vão ter emprego. A cultura é um dos setores mais pujantes da economia”, explica.

    Ator desde a infância, Caio Blat vem lotando teatros com o espetáculo Os Irmãos Karamázov, e credita plateias cheias a um efeito pós-pandemia: uma necessidade de contato mais próximo entre as pessoas.

    “Nesses dois anos que a gente passou se reorganizando, repensando a sociedade, os teatros todos fechados… de alguma maneira, a presença humana, a performance, a presença do ator ganhou uma importância, uma urgência muito grande”, diz. 

    Nesse contexto, Blat critica também os ataques feitos à classe artística nos últimos anos.

    “O artista sacode a realidade, questiona, faz as pessoas pensarem… Se você quer um governo obscurantista, que vive de fake news… o artista é muito perigoso. O artista e o professor”, alerta.

    Mesmo com a perceptível importância dos atores, Blat denuncia que há uma desvalorização da profissão, com a falta de legislação específica para garantir direitos da categoria.

    “Os atores não são considerados autores pela lei. (…) A nossa imagem, voz, interpretação estão presas ali e a gente tem um direito que é chamado conexo. Existe no México, Argentina, Espanha, em Portugal e não existe no Brasil. Eu fui até o Congresso Nacional, quando estava se discutindo a lei da mídia, a lei de regulamentação da internet, e os deputados ficaram chocados de saber que as nossas novelas e séries e filmes podem ser vendidos para as plataformas e reprisados ad infinitum sem a gente ter direito a nada. Tem atores desempregados vendo suas novelas passando na TV a cabo, passando no streaming”, lamenta.

    Nos palcos

    O espetáculo Os Irmãos Karamázov, em cartaz até o final de março de 2025 no Sesc São Paulo, se passa na Rússia pré-revolucionária e é uma adaptação do livro homônimo de Fiódor Dostoiévski, com direção de Marina Vianna e Caio Blat.

    O processo de adaptação do texto para o teatro envolveu um longo estudo de Caio, ao lado do ator e professor de teatro Manuel Candeias. 

    Blat explica que a escolha se deu por representar bem a obra do consagrado escritor russo:

    “É como se toda a obra de Dostoiévski desembocasse nesse livro. Os outros romances são mais psicológicos, acontecem mais dentro da cabeça. (…) Os Irmãos Karamázov’ foi publicado num jornal, em episódios, é uma novela, tem esse clima de folhetim, é algo muito, extremamente popular”. 

    A montagem é inédita no Brasil. No enredo, o ator e diretor destaca as reflexões possíveis a partir da história de cada personagem.

    “Se acreditava que toda a ética, toda a moral derivava do medo do inferno, do medo de não ir para o céu. Então a religião, o medo do que teria no pós-vida, obriga você a querer ser bom nessa vida. Mas eu acho que o homem já abandonou isso, a religião já perdeu essa centralidade na vida humana, (…) e Dostoiévski aponta exatamente essa virada, onde acaba o domínio da igreja”, defende.

    Ele traça ainda um paralelo com as mudanças da sociedade durante o século XX.

     “Nietzsche veio repercutir essa frase também, poucos anos depois, dizendo que Deus está morto, Deus não tem mais aquela figura central na vida do ser humano moderno. E aí a gente começa a extrair a nossa ética e a nossa bondade de outros valores, que não são necessariamente o medo do inferno”.

    O programa DR com Demori vai ao ar toda terça-feira, às 23h, na TV Brasil, app TV Brasil Play e no Youtube.

    Também é transmitido pelas rádios Nacional FM e MEC.


    Agência Brasil

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