O novo disco de Lula Queiroga se labareda Capibaribum, uma junção do nome do rio mais importante de Pernambuco com a onomatopeia “tibum”, extraindo-se a primeira sílaba.
“O nome do rio é Capibaribe, o rio das capivaras em linguagem avito (tupi). E ‘bum’ é o mergulho nele. A toga do disco é a capivara mergulhando no rio”, explica, em entrevista a CartaCapital. “Moro a 300 metros do rio. Ele sai dando voltas, criando deltas, pequenas ilhas. Tempos detrás, sobrevoei os 240 quilômetros do rio e fui buscar a nascente, que é pequena, um ‘pranto contínuo’. Desce pelo desfiladeiro, cria um rio, vira um dique – o Capibaribe se transforma muito.”
As músicas do disco, o sexto da curso do responsável, remetem ao trajeto do rio, desde sua nascente até a foz, na capital, passando pela serra, por comunidades ribeirinhas e por grave de pontes.
A faixa-título, de Lula e Yuri Queiroga (sobrinho do responsável e parceiro em mais quatro canções do disco), abre o trabalho e termina com um coro de crianças ribeirinhas do Capibaribe.
A segunda, A Ponte (Lula e Lenine), única não inédita das dez canções do álbum e sucesso na voz de Lenine, tem a participação de Ailton Krenak e de Marcelo Falcão.
Também marcam presença no álbum Bruna Alimonda, Zé Renato, Martins, Ylana Queiroga e a dupla Caju e Castanha.
“Caju e Castanha conheço desde pequenininho. Eles tocavam com lata de gulodice. Minha mãe trouxe eles para almoçar em vivenda porque achava que eles estavam com inópia. Depois, passaram a ir lá”, lembra Lula Queiroga. Eles tocaram a última filete, Revestimento do Nevoeiro (formação de Lula).
“Supra de tudo, nessa secção músico (do disco), eu crio paisagens sonoras para edulcorar a letra. Nessas passagens sonoras a gente vai em uma procura incessante de timbres e polirritmias. A gente usa muito polirritmia”, ressalta. “Pernambuco tem os maiores acervos de ritmos de todos. Por que não usá-los?”
Segundo ele, entre os ritmos que “entrelaçam” o disco estão forró, xote, maracatu, frevo e eletrônico. Lula Queiroga faz nesse trabalho uma junção de timbres, andamentos e pulsações, de forma zero convencional, com domínio. É um dos artistas mais respeitados de Pernambuco, que dialoga com figuras locais e de outras regiões do País.
Ele tem na curso um trabalho inovador com Lenine, o álbum Baque Solto, de 1983. Lula também ostenta mais de 200 composições gravadas por diferentes intérpretes do primeiro time da música brasileira, de Elba Ramalho a Milton Promanação.
“Passei por muitas transições. O primeiro foi em vinil (com Lenine). Depois, as tecnologias amparadas pelo computador. Hoje, chegou a um desarvorar completo”, define. “Isso mudou a relação com a música.”
O artista aponta uma “supremacia gigantesca” do technobrega e do piseiro em seu estado. “Mas o que a gente faz nunca vai deixar de ter seu nicho”, pondera. “No Brasil, tão diverso e disperso, tem essa supremacia grande do sertanejo, com um pouco do pagode. A supremacia é igual a pardal: quando tem muito, ele come a comida dos outros e não sobra zero para ninguém.”
Assista à entrevista de Lula Queiroga a CartaCapital: