O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu retirar definitivamente o diplomata Frederico Meyer do cargo de embaixador brasileiro em Israel. A decisão foi tomada na terça (28) e publicada no Diário Oficial da União desta quarta (29).
Meyer foi transferido para ocupar uma missão permanente na Conferência do Desarmamento, em Genebra, Suíça. Com isso, a representação brasileira em Israel passa a ser ocupada por um encarregado de negócios, o que aprofunda a crise diplomática entre os dois países.
“O presidente da República resolve […] nomear Frederico Salomão Duque Estrada Meyer […] para exercer o cargo de Representante Especial do Brasil junto à Conferência do Desarmamento, em Genebra, Confederação Suíça, removendo-o, ex officio, da Embaixada do Brasil em Tel Aviv para a Missão Permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas e Demais Organismos Internacionais em Genebra”, aponta a publicação (veja na íntegra). A Gazeta do Povo procurou o Itamaraty para detalhar a remoção e aguarda retorno.
Frederico Meyer havia retornado a Israel na última sexta (24) após quase três meses fora do país ao ter sido chamado de volta pelo governo como um sinal de protesto e insatisfação.
Em fevereiro, Meyer passou por um constrangimento ao ser convocado pelo chanceler israelense, Israel Katz, ao Museu do Holocausto, onde ouviu queixas públicas sobre a declaração de Lula ao comparar a reação israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto Nazista.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse em uma entrevista coletiva ao final de uma viagem à Etiópia.
Em resposta, Katz declarou ao embaixador que o presidente brasileiro era considerado uma “persona non grata” em Israel até que se retratasse. “Não esqueceremos e não perdoaremos. É um grave ataque antissemita. Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel – informe ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que ele se retrate”, disse Katz a Meyer durante a reunião em Jerusalém.
A situação gerou uma tensão diplomática entre os dois países. Dias depois, o ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, expressou “surpresa e desconforto” com a postura do governo israelense durante uma conversa de aproximadamente meia hora com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine.
A declaração de Lula também teve repercussões internas no Brasil. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) apresentou um pedido de abertura de processo de impeachment contra Lula, com o apoio de 144 deputados, entre eles Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG) e o ex-ministro Ricardo Salles (PL-SP), do Meio Ambiente. Os parlamentares argumentam que as declarações de Lula “configuram um crime de responsabilidade”.
O Ministério das Relações Exteriores e Lula ainda não se pronunciaram oficialmente sobre a remoção definitiva de Meyer da embaixada brasileira em Israel.