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    Com o belo ‘Jango no exílio’, o cinema nacional vive uma fase excepcionalmente boa – Opinião – CartaCapital

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    “Eu sou um labirinto em busca de uma porta de saída” – Vinicius de Moraes

    O cinema nacional e o estrangeiro vivem uma fase excepcionalmente boa.

    Jango no exílio é um belíssimo documentário, com depoimentos muito importantes dos familiares do ex-presidente, que demonstram o cuidado dele em não derramar o sangue de brasileiros, resistindo ao golpe de 1º de abril de 1964, pois não havia possibilidade de êxito.

    Com efeito, era imensa a desproporcionalidade entre as diminutas forças legalistas e os corpulentos arsenais golpistas, sustentados pelo governo dos Estados Unidos da América.

    Na película, vemos fotografias do traidor Castelo Branco, então chefe do estado-maior das forças armadas e líder golpista, sempre olhando para o chão, como convém a Judas.

    O filme também deixa claro o que se tentara esconder por décadas: que Jango era imensamente popular, contando com mais de 70% das intenções de voto para sua reeleição, ao contrário do que a imprensa golpista (Rede Globo à frente) buscava mentirosamente divulgar.

    No mundo real e atual, assistimos ao deslocamento de 150 militares do Sul do Brasil, para o Norte, com a justificativa de que pode haver um conflito entre a Venezuela e a Guiana.

    Mais uma vez, o Itamaraty se dobra à Defesa, demonstrando que a diplomacia nacional, com raras exceções, foi vencida pelo militarismo, desde o sepultamento do Barão do Rio Branco, em 10-2-1912.

    Na verdade, os historiadores britânicos esclarecidos são unânimes em reconhecer que o conflito fronteiriço do Esequibo é herança maldita do império britânico e só sob essa ótica poderá ser resolvido.

    Mas o governo de centro-esquerda insiste na fórmula militarista que tantos danos causou ao Haiti, inclusive ao trazer ao primeiro plano figuras tão nefastas quanto o general Heleno e desgovernador Tarcísio.

    Como diz o ditado espanhol: “cria cuervos, que te comerán los ojos”.

    Retomando a linha dos documentários nacionais, A Baía traz oito episódios sobre a baía de Guanabara.

    Trata-se de linguagem revolucionária: praticamente não há diálogos, mas sons, inclusive de animais, como os caranguejos pescados, a reconhecer-lhes direitos, inclusive à manifestação e – talvez – à fala.

    Os protagonistas são o povo empobrecido que vive nas margens esquecidas, de uma das mais belas baías do mundo, seguramente, a mais sofrida.

    Dias perfeitos, de Win Wenders, trata do existir – única e exclusivamente, com suas alegrias, tristezas e contradições.

    Wenders consegue tirar poesia de sanitários, luzes da cidade, do céu e, mais importante, de pessoas tão comuns quanto eu e você.

    Retornando à realidade nua e crua, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou projeto de lei para proibir o aplicativo Tik Tok nos EUA ou obrigar sua venda a empresa americana, alegando segurança nacional.

    Seria para rir, se não fosse para chorar: o quartelão atrasado em que se tornaram os EUA não consegue competir tecnologicamente com a China ou a Índia, no campo civil, e ainda menos com a Rússia, no campo militar ou energético, devendo recorrer a instrumentos que nada guardam de democráticos, a fim de vencer a concorrência.

    Justamente o país que arroga internacionalmente ser o paladino da “livre concorrência”, tornou-se, na verdade, seu sepulcro, devidamente caiado, isso sim.

    Na linha dos almanaques e suas dicas, recomendo o Almanaque Brasilidades (editora Bazar do Tempo), de Luiz Antonio Simas, que, entre outros, cita este belo provérbio iorubá: “O coração pode ver mais profundamente que os olhos.”

    Isso vale para o cinema, os jornais e tudo o mais que vemos e – principalmente- não vemos com os olhos.

    No mesmo Almanaque, Simas inseriu outra belíssima citação, também negra, da grande Carolina Maria de Jesus: “Quem não tem um amigo, mas tem um livro, tem uma estrada.”

    Sempre na herança africana, o autor cita também um de seus melhores tradutores, Jorge Amado: “Não sou religioso, mas tenho assistido a muita mágica. A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres.”

    Em O olhar (Companhia das Letras), Renato Mezan recorda Guimarães Rosa, diplomata e escritor: “Nenhum olhos têm fundo; a vida, também, não.”

    No mesmo volume, Katia Muricy, analisando o olhar dos Iluministas franceses do século XVIII, observa:

    “A sociedade justa, livre, igualitária e fraterna é, para as luzes, aquela que não opõe obstáculos ao olhar do cidadão comum. É a que, ao contrário, proporciona uma visibilidade plena aos mecanismos de seu funcionamento…A esta exigência de transparência do social corresponde, no século XVIII, uma repulsa à escuridão, ao que escapa ou resiste ao olhar iluminista. A edificação de uma nova ordem moral e política dependia de que a luz da razão e da justiça, encarnada no olhar do cidadão, iluminasse as regiões sombrias onde se abrigam a ignorância, a superstição religiosa, a mentira dos tiranos. Nesse sentido, são muito sugestivas as considerações de Michel Foucault sobre a desconfiança e o medo que os homens do século das Luzes passaram a ter pelos lugares inacessíveis ao seu olhar: castelos, fortalezas, conventos; e também sobre como, no imaginário dos romances de terror contemporâneos à Revolução, uma paisagem fantástica feita de masmorras, cemitérios e castelos passa a abrigar o terror”.

    Portanto, olhos abertos e corações plenos, para ver o invisível.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.



    Informações são do site Carta Capital, Clique aqui

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