Nascido em Madureira e criado em Oswaldo Cruz, só podia resultar em samba de primeira, e Marquinhos de Oswaldo Cruz lançou um excelente disco do gênero: Agbo Ato, o seu sexto trabalho, traz nove sambas autorais e um partido alto resgatado nas antigas rodas.
“A ideia desse álbum é fazer como sempre foi feito. Foi uma gravação à moda antiga”, resume Marquinhos em entrevista a CartaCapital.
Agbo Ato se pautou pela tradição, mas trouxe elementos novos, segundo o artista. O trabalho foi produzido pelo excelente arranjador e trombonista Marlon Sette.
O nome do disco se inspira em uma viagem de Marquinhos à Nigéria no ano passado, uma experiência que transfomou seu olhar sobre as tradições afro-brasileiras. Agbo Ato é uma expressão iorubá que significa “o desejo de que tudo dê certo”.
Duas faixas que saltam aos olhos no disco são Verde Bandeira, de Marquinhos de Oswaldo Cruz e Luiz Calos Máximo, e Raiz da Memória, de Marquinhos com Rogério Lessa.
“A minha geração chegou na decadência do Cacique de Ramos. Só se falava em Raça Negra (grupo de pagode). Era um outro tipo de samba que estava no mercado. E se dizia que aquele samba dito de raiz não aconteceria mais”, relata.
Marquinhos se lembra da declaração de um artista de que “se raiz fosse boa, não dava embaixo da terra”. A resposta veio em Verde Bandeira, falando especialmente das tradições das árvores.
“Saudosa jaqueira da Portela/ Velha companheira guardiã/ Sou anfitriã da batucada em gurufins/ Bela amendoeira do pagode em botequim/ Eu sou de carvalho, sou jequitibá/ Ninho de bamba, gongar e altar/ Corre por todo o meu caule o samba verdadeiro”, diz um trecho da música.
Já Raiz da Memória foi um samba-enredo que Marquinhos compôs recentemente para o Carnaval da Portela, mas que acabou derrotado. O samba, contudo, aparece orgulhoso no disco — a gravação tem a participação da Velha Guarda da Portela.
O único samba do disco não assinado por Marquinhos de Oswaldo Cruz é Boiadeiro, que ele conheceu em uma apresentação de Paulinho da Viola na Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz, na festa do Trem do Samba de 2022. É o evento cultural mais longevo do calendário do Rio — e organizado por Marquinhos.
No desfile da Portela no sambódromo, Marquinhos encontrou Paulinho e pediu a ele que cantasse a música, para gravar no celular. O registro agora vê a luz do dia, no álbum Agbo Ato.
“Eu faço essa luta pela tradição na cidade”, afirma.”A tradição não é algo mórbido. Ela vai se modificando aos poucos, com seu tempo, não é refém do mercado fonográfico.”
Para o Trem do Samba, que celebra o Dia Nacional do Samba (2 de dezembro), Marquinhos projeta uma edição especial em 2025, já que a festa completa 30 anos. “Não se comemorava o dia do samba. Foi o Trem do Samba que fez isso.”
Trata-se de um evento no qual sambistas se reúnem para tocar nos vagões do trem que parte da Central do Brasil rumo à estação de Oswaldo Cruz. É o resgate de uma tradição da primeira metade do século passado.
Já a próxima Feira das Yabás, organizada por Marquinhos de Oswaldo Cruz há mais de 15 anos, acontecerá em 1° de maio no CCBB, no centro do Rio. Por óbvio, com muito samba.
Em Agbo Ato, Marquinhos de Oswaldo Cruz despeja o amor e o respeito pelas tradições que ele tanto conhece e promove. É um dos grandes álbuns do ano. O samba merece.
Assista à entrevista de Marquinhos de Oswaldo Cruz a CartaCapital: