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    A adultização das crianças e a infantilização dos adultos – CartaCapital

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    Na última semana, o Brasil parou para incorporar uma nova palavra a seu vocabulário: adultização. O termo emergiu após o vídeo do influencer Felca denunciando a exposição de crianças e adolescentes na internet, citando nominalmente outro influencer: Hytalo Santos. A história não deixou nenhuma dúvida sobre o caráter urgente de proteger as crianças e punir os culpados.

    Ao mesmo tempo, pipocaram nas redes sociais uma série de imagens de adultos usando chupetas para combater o stress. Assistimos incrédulos à infantilização de adultos.

    Sinteticamente, a adultização é atribuir a uma criança ou adolescente ações, comportamentos e atividades que fazem parte do universo adulto. No caso da denúncia de Felca, a exposição erótica de crianças foi o motivo do turbilhão. A exposição aconteceu numa rede social. Redes sociais são empresas privadas. Imagine uma boate. Um sujeito paga entrada, leva crianças e faz um show “adultizado” com elas. A plateia vibra. A polícia chega e prende os envolvidos. Responsabiliza os donos da boate. Seria justo. Qualquer empresa deve ser responsabilizada pelo que acontece em seu interior. Vale o mesmo para as redes sociais.  Ou deveria valer.

    Felca também denuncia o óbvio: o chamado ‘algoritmo P’ – de pedofilia. A repórter Renata Cafardo, do Estadão, fez um excelente e simples trabalho. Criou identidades que atraíram exatamente os interessados em perfis infantis. As mensagens recebidas, segundo especialistas, se relacionavam a pedofilia. Hytalo chegou a dizer que tudo o que fez foi com autorização dos pais. Nas questões que envolvem vulneráveis, os pais não podem ser negligentes, exploradores ou irresponsáveis. Crianças não são objetos inanimados e o Estado tem o dever de protegê-las.

    A ação criminosa de expor crianças nas redes sociais é uma face sinistra de algo que é visível e assumido como normal pela sociedade. No Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira manifestação a proibir claramente o trabalho infantil – abaixo dos 14 anos. O Brasil era um país agrícola, com polos de industrialização e fiscalização nada eficiente. As famílias estão recheadas de histórias de avós que começaram a trabalhar ainda crianças, contadas como exemplo de superação. Em 88, a nova Constituição reforçou a decisão. Dez anos depois, a Emenda Constitucional 20/1998, estabeleceu a possibilidade de maiores de 14 anos atuarem como aprendizes e determinou que o trabalho efetivamente só seria permitido para maiores de 16 anos. Há um jargão que diz ser a lei uma recomendação e, poucas vezes, uma ação. Basta olhar para as ruas.

    A desigualdade social do Brasil, com famílias ainda alijadas das condições desejáveis de sobrevivência, cria um exército de crianças trabalhadoras. O Dieese, estima que o salário-mínimo para uma família de quatro pessoas deveria ser de 7.600 reais. Atualmente é de 1.510 reais, cinco vezes menos. As crianças e adolescentes que passam a noite nos bares vendendo balas, quinquilharias e outras coisas, estão trabalhando para compor a renda de suas famílias.

    Quando o trabalho acontece sob os holofotes, há uma sensação de que tudo é divertido. Filmes publicitários, novelas e programas infantis com crianças em sets de gravação estafantes não são as imagens de crianças felizes comendo um hambúrguer, correndo com um cachorrinho ou outras ações. Atores mirins são trabalhadores. A fama cria uma sensação de brincadeira. Recomendo a esclarecedora série documental O Lado Sombrio da TV Infantil, no canal HBO Max ou no Prime.

    Entre 2023 e abril de 2025, mais de 6,3 mil crianças e adolescentes foram retirados do trabalho infantil no Brasil de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Desse total, 731 crianças tinham até 13 anos. As principais atividades de atuação foram o comércio varejista, o setor de alimentação, oficinas de veículos, agricultura e pecuária. A lei existe. E o trabalho infantil coexiste com ela. O que há de comum em toda essa adultização é uma regra de mercado em que a ética e a moral estão à venda. E a mercadoria é gente.

    Felca fez o trabalho. Mas esse não é um trabalho dele. É de toda a sociedade. Quando você estiver no próximo bar, nas ruas, nas barracas de praia, não se esqueça de que isso diz respeito a todos nós. Desbloqueie o celular, denuncie, acolha e aja. Porque nada pior em um mundo que adultiza crianças do que a infantilização de adultos, que agem como se não tivessem qualquer responsabilidade com os fatos. Colocam chupetas na boca para combater o stress e, claro, ganhar alguns cliques.

    Informações são do site Carta Capital, Clique aqui

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