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    Outra tentativa – CartaCapital

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    A notícia do início da tarde da segunda-feira 18 mobilizou o noticiário e a comunidade internacionais. O Hamas aceitou os termos da última proposta de cessar-fogo apresentados pelos negociadores, mas o avanço da negociação dependia da posição de Israel. O sim do grupo palestino supostamente retira o principal entrave a qualquer acordo. Segundo os mediadores do Egito e do Catar, o Hama­s havia concordado com 98% do texto. Em uma primeira etapa, o cessar-fogo duraria 60 dias.

    O jornal Al-Mayadeen publicou, com base em uma fonte palestina, que o passo inicial levaria a um recuo de um quilômetro do exército israelense a norte e a leste. Em troca, o Hamas libertaria dez reféns israelenses e receberia 140 prisioneiros políticos palestinos condenados à prisão perpétua e outros 60 que cumprem penas superiores a 15 anos. Por fim, Israel permitiria a entrada de ajuda humanitária, como combustível e água, além de reativar a eletricidade e os hospitais. A administração do apoio seria transferida à ONU e suas agências e ao Crescente Vermelho, tirando das mãos do GHF, o sistema montado por Israel e EUA, visto como uma armadilha (quase 2 mil palestinos foram assassinados nos arredores dos centros de distribuição de alimentos e remédios).

    A partir da resposta do Hamas, todos os olhos se voltaram para o gabinete de Benjamin Netanyahu. Na noite da segunda 18, o governo israelense comunicou que a resposta ficaria para a sexta-feira 22, após o fechamento desta edição. Na prática, o plano anunciado em 8 de agosto, de conquista da Cidade de Gaza como base para a recolonização da Faixa de Gaza, continua em pleno vigor. Jornalistas palestinos postaram vídeos­ e descreveram massacres no bairro de Al-Sabra. Ahmed Kaheel reportou: “Bombardeios pesados de artilharia estão agora alvejando o bairro. Apelos urgentes de famílias que estão presas lá, sem poder deixar suas casas devido ao intenso ataque. A situação é extremamente perigosa”. Uma clínica da UNRWA, abrigo para famílias, foi cercada. “Tanques israelenses avançaram repentinamente sobre a área.” De acordo com dados da OCHA–OPT, na segunda semana de agosto, o número de palestinos mortos chegou a 61.722. Mas o extermínio pode ser bem maior, 300 mil, segundo cálculos da revista The Lancet.

    Na quarta-feira 20, o Conselho de Planejamento para Colonização dos Territórios vai discutir os planos de construção de 3.753 moradias na colônia de E1, colada a outra ilegal, de Maale­ Adumin. A E1 foi inicialmente desenhada no início dos anos 1990, mas agora abre-se uma oportunidade para sua implementação, com um processo acelerado de aprovação nas instâncias israelenses. Sua construção deverá isolar Jerusalém Oriental, cortando-a de Ramallah, ao norte, e Bethlehem, ao sul. Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional, desencorajou o governo do qual faz parte a aceitar o acordo. O diário Haaretz publicou que o ex-chefe da inteligência militar israelense, Aharon Haliva, acredita que o alto número de palestinos mortos “era necessário para futuras gerações”. O militar, dispensado do cargo pelo fracasso do 7 de outubro, acrescentou: “Não há escolha, eles precisam de uma Nakba­ de vez em quando”. Ou seja, a lógica da punição a uma população que saiu do controle está na base dos objetivos israelenses. Nem a greve geral no país em favor do fim do conflito sensibilizou o governo.

    Nem a greve geral pelo fim do conflito sensibilizou o governo Netanyahu

    O genocídio tem mais chance de ser interrompido de fora, por pressão sobre Israel. As reações aparecem aqui e ali, mas ainda se mostram tímidas e sem efeito. Algumas manifestações de chefes de Estado ocorrem desde a escalada­ ­da tragédia da fome aguda e das mortes por inanição. França, Reino Unido, Canadá e Austrália declararam que reconhecerão o Estado palestino em setembro, na Assembleia-Geral da ONU.

    Em um debate promovido pelo think tank palestino Al-Shabaka, Diana ­Buttu, advogada de direito internacional, levantou o histórico do esforço de reconhecimento. A campanha, iniciada em 2011, afirmou, deu-se em um contexto de falta de legitimidade e força política da liderança de Ramallah. “A Autoridade Palestina estava exposta como uma subcontratada de segurança do regime israelense e tinha necessidade urgente de legitimidade. Ao mesmo tempo, a campanha oferece aos Estados europeus uma forma para evitar confrontar Israel, uma confrontação que requereria medidas como sanções ou embargos.”

    Movimentos de solidariedade à Palestina caminham nessa direção. A Associação de Treinadores da Itália enviou uma carta à federação italiana, na qual pede a exclusão de equipes israelitas de competições internacionais. A seleção italiana tem jogo marcado com Israel em outubro, pelas Eliminatórias da Copa. Outra campanha é liderada por funcionários da Microsoft, articulados ao redor do núcleo “No Azure for Apartheid” (Azure é o serviço de nuvem da companhia), que pede o fim das relações da gigante de tecnologia com Israel. Na terça-feira 19, um grupo de empregados e ex-empregados ocupou a praça do prédio central da corporação em Redmond, Washington, e declarou o local como uma “Zona Liberada”, agora nomeada “Praça das Crianças Palestinas Martirizadas”. O grupo protesta contra a atuação da gigante de tecnologia em Israel, especialmente depois de uma reportagem de The ­Guardian e do +972 ter revelado um acordo da ­Microsoft com o exército israelense para prover acesso a serviço massivo de nuvem para gravar “milhões de chamadas por hora” que serviram a operações em Gaza e na Cisjordânia. •

    Publicado na edição n° 1376 de CartaCapital, em 27 de agosto de 2025.

    Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Outra tentativa’

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